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Proc. Interamer. Soc. Trop. Hort. 47:61-64. Vegetables/Hortalizas - October 2003 Qualidade e Conservação Pós-Colheita de Melão Gália Híbrido 'Arava' Submetido a Aplicações Pré-
Colheita de Quelato de Cálcio e Boro

Fábio del Monte Cocozza e Adimilson Bosco Chitarra, Universidade Federal de Lavras, Caixa Postal 37, 37200-000
Lavras, MG, Brasil, chitarra@ufla.br
Everardo Ferreira Praça e Josivan Barbosa Menezes, Escola Superior de Agricultura de Mossoró, Caixa Postal 137,
59675-900, Mossoró, RN, Brasil, cppg@esam.br
Ricardo Elesbão Alves, Embrapa Agroindústria Tropical, Caixa Postal 3761, 60511-110, Fortaleza, CE, Brasil,
elesbao@cnpat.embrapa.br

Resumo. Avaliou-se a qualidade e a conservação pós-colheita de
Abstract. This work evaluated the quality and postharvest
melão Galia híbrido 'Arava' submetido à aplicação pré-colheita de conservation of 'Arava' hybrid Galia melon, when fruit were pre- quelato de cálcio e boro desde a formação até a colheita. Dois harvest treated with calcium chelate and boron from fruitset to grupos de melões receberam duas aplicações de quelato de cálcio harvest. Calcium chelate and boron were applied (5kg/ha) after e boro (5kg/ha), 20 e 27 dias após o plantio, sendo que a partir da 20 and 27 days of sowing to two groups of melons. After antese o controle não foi mais tratado e o segundo grupo recebeu, anthesis, the control group was no longer treated, while the através de pulverização foliar realizada diretamente nos frutos, second group received 4 more applications after 34, 41, 48 and 55 mais quatro aplicações aos 34, 41, 48 e 55 dias. Os melões foram days. Melons were harvested at commercial maturity stage and colhidos após atingirem a maturidade comercial e armazenados cold stored (7±1°C e 85±5% UR). At the beginning and at the sob refrigeração (7±1°C e 85±5% UR). Os frutos foram avaliados end of storage (0 and 29 days) fruit were analyzed. Results no início e no final do armazenamento (0 e 29 dias). Os showed that boron and calcium treatment decreased total sugar resultados indicaram que o produto reduziu o teor açúcares totais content at harvest, facilitating calcium binding to cell wall and por ocasião da colheita, favoreceu a ligação do cálcio à parede e increased highly and lowly methoxylated pectin, although it did aumentou as pectinas de alta e baixa metoxilação, mas mostrou not reduce firmness loss and to enhance fruit resistance through ser ineficiente na redução da firmeza após o armazenamento e consequentemente no aumento da resistência dos frutos durante oarmazenamento.
O cálcio tem sido aplicado antes e após a colheita para prevenir desordens fisiológicas, retardar o amadurecimento de váriosfrutos (Poovaiah, 1986) para manter a integridade da parede celular. O tratamento pré-colheita é mais uma técnica do aumentoda vida útil de frutos além dos vários tratamentos pós-colheita adotados com a mesma finalidade. Sem dúvida a maiordesvantagem no seu uso são as pulverizações que trazem um custo adicional ao produtor, para atingir aumentos significantesde cálcio nos frutos. A aplicação via foliar do quelato de cálcio e boro visa redistribuir o cálcio com maior uniformidade erapidez. O quelante atua liberando o cálcio de seus sítios de ligação aumentando sua mobilização e facilitando sua translocaçãopara os frutos. Além disso, o quelato pode se ligar aos sítios que seriam ocupados pelo cálcio evitando a sua imobilização(Ben-Arie et al. 1995) através da ligação às enzimas que possam transportá-lo (Glenn e Poovaiah, 1990). Outras culturas comotomate, berinjela, pepino e especialmente maçã, cujo período de maior necessidade de cálcio está concentrado na frutificação,recebem rotineiramente pulverizações foliares de cálcio na forma de sais e quelatos (Vicente, 1990).
Desde o momento que o melão nobre é colhido e exportado, o processo de amolecimento é acelerado constituindo aprincipal causa das perdas e queixa dos importadores. Outras causas das perdas desses melões são o apodrecimento,descoloração da superfície, injúria pelo frio relatadas por Rij e Ross (1988). Assim a aplicação de quelato de cálcio e boro napré-colheita visa aumentar a absorção de cálcio e boro nas paredes celulares refletindo na sua qualidade pós-colheita.
Assim, objetivou-se avaliar a qualidade de melão Gália, hibrido 'Arava', submetido ao tratamento de quelato de cálcio e borona pré-colheita através das análises físicas, químicas, físico-químicas e subjetivas ocorridas entre a colheita e o fim doarmazenamento refrigerado.
Material e Métodos
O experimento foi instalado em plantio comercial da empresa Mossoró Agroindustrial S/A (MAISA) localizada emMossoró, RN, Brasil. O melão utilizado foi o Gália, híbrido 'Arava'. A fertirrigação, realizada diariamente pela manhã, foiiniciada no 8° dia após plantio estendendo-se até o 59° dia e feita de acordo com o manejo da empresa. A área ocupada porcada tratamento foi de aproximadamente 320 m2. Cada parcela compreendia uma área útil de 4 m2, contendo 02 plantas/covaperfazendo 8 covas, com espaçamento entre plantas de 2,0 m x 0,25 m. A população de plantas foi de 16000/ha. Em duas áreasdistintas foram feitas duas aplicações de quelato de cálcio e boro por via foliar aos 20 e 27 dias após o plantio. Após aformação do fruto, iniciou-se os tratamentos adicionais com o produto em uma das áreas, sendo que a outra permaneceu comocontrole. Neste caso, foram realizadas mais quatro aplicações por via foliar diretamente nos frutos aos 34, 41, 48 e 55 dias apósa antese. As aplicações do produto foram distribuídas de forma que a cultura recebesse a dosagem de 5 Kg de cálcio/ha porciclo, a qual era utilizada comercialmente pela maioria dos produtores da região. O produto continha (8% de cálcio + 2% deboro) e foi aplicado juntamente com outros micro e macronutrientes por meio de um pulverizador costal.
Os frutos foram colhidos aos 59 dias após plantio (24 dias após a antese) quando apresentavam coloração maturo-verde compedúnculo totalmente preso. Foram selecionados 40 frutos no campo sendo metade deles avaliados no dia da colheita e outra metade foi avaliada 29 dias após o armazenamento em câmara fria a 7 ± 1°C e 85 ± 5% UR, seguindo as condições ideais dearmazenamento refrigerado para o melão Gália produzido naquela região (Menezes, 1996).
As características avaliadas foram as seguintes: Matéria Seca - foi feita na casca e na polpa dos frutos de cada parcelaexperimental, retirando-se amostras e levadas para estufa com circulação forçada de ar a 70°C até peso constante; Perda demassa - calculada considerando-se a diferença entre o início e o final do armazenamento; Aparência Externa, Interna e Danospelo frio – de acordo com uma escala de notas de 0 a 4 sugeridas por Menezes (1996) mediante apresentação de defeitos comomudanças na coloração, deteriorações, amaciamento e incidência de manchas causadas frio; Sólidos Solúveis Totais - foramdeterminados no suco, com auxílio de um refratômetro digital; Firmeza - foram feitas em cada fruto cortado longitudinalmenteem quatro fatias eqüidistantes com o auxílio de um penetrômetro (Mc Cormick modelo FT 327 com 0,6 mm de diâmetro);Açúcares Solúveis Totais - foram determinados pelo método da antrona (Dische, 1962); Sólidos Insolúveis em Álcool - foramextraídos do mesocarpo como descrito por Roe e Bruemmer (1981); Pectinas – obtidas após submeter o SIA a uma extraçãoseqüencial em diferentes solventes de acordo como método de Mangas et al. (1992) e doseamento feito segundo métodoproposto por Blumenkrantz e Asboe-Hansen (1973); Cálcio ligado a Parede Celular – após digestão em solução nitro-perclórica (Malavolta et al., 1989) analisado diretamente nos SIA segundo Jones e Isaac (1969).
O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado (DIC) em esquema fatorial (2 X 2), com cincorepetições de quatro frutos cada. Os fatores estudados foram: cálcio (Controle e quelato de cálcio e boro) e armazenamento (0 e29 dias). As análises estatísticas foram realizadas através do programa estatístico Estat e utilizou-se o Teste F (P≤0,05) paracomparação de médias dos tratamentos estudados.
Resultados e Discussão
O tempo de armazenamento influenciou a maioria das características avaliadas (Tabela 1), enquanto que os tratamentos tiveramefeito significativo apenas para cálcio ligado a parede celular, pectinas de alta e de baixa metoxilação (Tabela 2). Com exceçãodos açúcares solúveis totais não houve interação significativa entre os tratamentos e o tempo de armazenamento para as demaiscaracterísticas (Tabela 3). Não foi observado nenhum efeito sobre a aparência interna dos frutos.
Todos os frutos apresentaram perda de massa média da ordem de 4,94% aos 29 dias de armazenamento além de levemurchamento. De acordo com Wills et al. (1982) perdas em torno de 5% conduzem, além do murchamento, a deformações nosfrutos. A perda de massa representa uma combinação de perda de água e de matéria seca como sugere (Lester e Bruton, 1986).
O armazenamento influenciou significativamente a redução da matéria seca na casca e polpa. Houve redução de 14,98% noteor de matéria seca da polpa e de 13,91% no teor de matéria seca da casca durante o armazenamento. Esses valores foram bemsuperiores àqueles encontrados por Lester e Bruton (1986) em melões reticulados que foi de 10,2%. Essas reduçõesprovavelmente se devem ao consumo de substratos para a respiração dos frutos em refrigeração como aponta Menezes (1996).
A perda de massa observada provavelmente favoreceu a concentração no teor de sólidos solúveis ao final do experimentoque foi cerca de 15% superior ao da colheita. Estes valores entretanto, apesar de similares aos obtidos por Welles e Buitellar(1988), estão abaixo aos exigidos pelo mercado (Alves, 2000). Assim como Oliveira (1992), trabalhando com esse mesmohíbrido, os melões foram colhidos com aproximadamente 2 meses após o plantio, porém apresentavam pelo menos 3 ºBrix amenos. Um dos fatores que podem ter contribuído para o baixo teor de sólidos solúveis neste trabalho foi a metodologiautilizada, homogeneização da polpa, já que a nível comercial esta avaliação é feita retirando-se uma fatia do fruto no sentidolongitudinal e forçando manualmente a liberação de algumas gotas do suco da região mais interna da polpa sobre o prisma dorefratômetro, que em geral pode fornecer valores de sólidos solúveis superiores em 2 a 3 %. Houve interação significativa entreos fatores armazenamento e tratamentos para açúcares totais (Tabela 3). O quelato de cálcio e boro teve um efeito redutor, emcerca de 21,23% no teor de açúcares totais em relação à testemunha por ocasião da colheita. Mas com o fim doarmazenamento, o conteúdo desses açúcares estatisticamente não diferiu entre os tratamentos. O armazenamento e a perda deágua provavelmente influenciaram significativamente no aumento dos açúcares totais dos frutos. A média geral para aparênciainterna correspondeu a 0,20, indicando que a mesma não sofreu alterações. Em relação a aparência externa e aos danos pelefrio as notas ao final do armazenamento (29 dias) corresponderam respectivamente a 2,46 e 2,11. Levando-se em consideraçãoque frutos com nota igual ou superior a 3,0 não estariam em condições de comercialização (Menezes, 1996), os melões dopresente trabalho poderiam ainda poderiam ser comercializados apesar de apresentarem pequenas manchas entre as nervurasassemelhando-se a danoss pelo frio. Seymour e McGlasson (1993) confirmam ser comum o aparecimento dessas manchas emmelões reticulados.
Durante o armazenamento a firmeza dos frutos foi reduzida em 35%. Essa diminuição foi acompanhada por um decréscimono teor de sólidos insolúveis em álcool ou material de parede celular e com conteúdo de cálcio ligado a parede. Em geral, atextura diminui devido a conversão da protopectina em pectinas de alta e baixa metoxilação em função de enzimas pécticas.
Ranwala et al. (1992) forneceram fortes evidências do envolvimento de isoformas de β-galactosidases na modificação decomponentes de parede durante o amadurecimento de melão.
Durante o armazenamento ocorreu um aumento da pectina de alta metoxilação e uma redução da protopectina. Por outrolado, ficou evidenciado o efeito dos tratamentos sobre as pectinas de alta e baixa metoxilação e sobre o toer de cálcio ligado aparede celular. Nos melões estudados observaram-se aumento de 23,56% da pectina de alta metoxilação e 33,39% dedecréscimo da protopectina durante o armazenamento. Em cerejas Glenn e Poovaiah (1989) documentaram o mesmo efeito ao usar um quelante associado a um composto com cálcio e verificaram maior solubilidade de pectinas. Eles advertiram que o usode fertilizantes a base de quelantes devem ser empregados com cautela.
Tabela 1. Algumas características de melão Gália, híbrido ‘Arava’, aos 0 e 29 dias sob armazenamento refrigerado (7±1°C e
85±5% UR).
Características
Tempo de Armazenamento (dias)
0*
Cálcio Ligado a Parede Celular (umol.g-1 material de Parede Celular) Pectina de Alta Metoxilação (mg ácidos urônicos.100g-1 massa fresca) Protopectina (mg ácidos urônicos/100g-1 massa fresca) *Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na horizontal não diferem significativamente entre si, pelo Teste F. Tabela 2. Açúcares solúveis totais de melão Gália, híbrido ‘Arava’, submetido à aplicação de quelato de cálcio e boro na pré-
colheita e armazenado durante 29 dias em temperatura de 7 ± 1°C e umidade relativa de 85 ± 5%.
Aqucanes soluveis totais
*Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na horizontal não diferem significativamente entre si, pelo Teste F. Tabela 3. Algumas características de melão Gália, híbrido ‘Arava’, submetido a aplicação pré-colheita com quelato de cálcio e
boro.
Características
Tratamentos
Cálcio Ligado a Parede Celular (umol.g-1 material de Parede Celular) Pectina de Alta Metoxilação (mg ácidos urônicos.100g-1 massa fresca) Pectina de Baixa Metoxilação (mg ácidos urônicos.100g-1 massa fresca) *Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na horizontal não diferem significativamente entre si, pelo Teste F. Conclusões
A aplicação adicional com quatro pulverizações pré-colheita de quelato de cálcio e boro após a antese favoreceu uma maiorligação de cálcio nas paredes celulares, resultando em valores 41,27% superior ao controle, sem no entanto, ter influenciado deforma positiva a firmeza e a conservação pós-colheita dos frutos.
Literatura Citada
Alves, R. E. 2000. Melão pós-colheita. Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, Fortaleza.
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Agradecimentos Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela concessão da bolsas de estudos; À
Mossoró Agroindústria Ltda (MAISA) pela concessão de frutos e instalações; À empresa Agrofresh e a FINEP (Financiadora de Estudos e
Projetos) pelo apoio financeiro para participação na 49ª Reunião da ISTH.

Source: http://www.ceinfo.cnpat.embrapa.br/arquivos/artigo_1491.pdf

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