A política orçamental como instrumento anticíclico
as contas públicas: a redução das receitas
segunda forma de actuação estabilizadora,
resse público, podendo traduzir-se por des-
provenientes dos impostos induzidos pelo
foi de há muito promovida a instrumento
perdício ou distorções na despesa pública
Nnacional, ao mesmo tempo que rendimento e o aumento das despesas em anticíclico. Estas implicam, por outro lado, por infl uência de grupos de interesse (este
subsídios, designadamente de desemprego,
alterações activas nas políticas de base que
facto é reconhecido designadamente nos pa-
afectam os gastos do Estado, as transferências
íses emergentes). O primeiro argumento é
via deste último que podemos esperar um
e os impostos, e que foram estruturadas por
apenas aceitável em recessões muito breves,
apresentava no capítulo 5 uma análise com
efeito de atenuação da queda da procura
outras razões (politicas, sociais ou outras),
o título “Fiscal policy as a countercyclical
diferentes do motivo-estabilização.
tância que envolva gestão do orçamento de
tool” onde se procura responder à questão
Os cépticos relativamente à utilização destas
Estado e não especifi camente a propósito
“pode a politica orçamental discricionária
sujeito a “lags” e tem um papel imediato
políticas opõem-se na base de um conjunto
estimular com o sucesso o produto?” (196).
nas recessões, funcionando sem qualquer
de argumentos que vão desde a inabilidade
Um argumento mais forte relaciona-se com
O principal resultado pode resumir-se no
actividade deliberada das autoridades. A sua
um efeito de evicção decorrente da abertura
seguinte. “A nova evidência aqui apresen-
força no entanto dependerá da dimensão
tempo e direcção adequados até às possíveis
das economias ao exterior. Na verdade, a
tada…indica que os efeitos de um estímu-
e da progressividade do sistema fi scal, e da
implicações na manutenção da sustentabili-
política orçamental expansionista pode reve-
lo orçamental podem ser positivos, embora
lar-se menos efectiva nestas circunstâncias,
modestos” (159). Ou, noutros termos, “A
em relação àquele subsídio. Neste sentido,
A inabilidade dos governos pode ter como
podendo uma parte signifi cativa do estímulo
evidência empírica sugere que os estímulos
consequência que o estímulo fi scal produza
dirigir-se para importações limitando assim
orçamentais discricionários têm um efeito trade-off entre aumento da estabilidade pro-
os efeitos esperados com atraso, infl uen-
os seus efeitos. Esta difi culdade pode todavia
moderadamente positivo no crescimento
porcionado por uma estrutura do estado de
ciando a economia já noutra fase do ciclo
ser superada em duas circunstâncias: pela
do produto nas economias avançadas”
maior dimensão e a efi ciência da economia
económico, eventualmente expansionista,
escolha de medidas com carácter fortemente
(160), podendo ser ainda mais restritos nas
selectivo em favor das actividade e sectores
Em qualquer caso, tendo em geral os estabili-
uma tendência pró-cíclica. Por outro lado, as
que se possa formar em torno da dívida.
zadores automáticos potência limitada, a utili-
medidas de estímulo fi scal nem sempre são
e pela coordenação das políticas quando a
zação de politicas orçamentais discricionárias,
fáceis de dirigir para o alvo desejado do inte-
recessão adquire um carácter internacional.
discussão sobre a questão se tem alongado
DIMENSÃO E DISTRIBUIÇÃO NO TEMPO DOS PACOTES ORÇAMENTAIS
empresas e particulares anteciparem a ne-
colocar-se da seguinte forma: De um lado, a
cessidade futura de aumentos de impostos
O quadro em anexo apresenta a dimensão e a distribuição no tempo das medidas orçamentais
para fazer face ao agravamento do défi ce
de carácter discricionário que foram sendo adoptadas para enfrentar a crise na área do euro de
impostos, transferências e gastos públicos
acordo com as estimativas da OCDE para o período 2008-2010. Em geral os impactos fi nanceiros
levados a reduzir desde já o investimento
das medidas orçamentais estão repartidos entre a despesa pública e a receita fi scal com uma
opor às fl utuações da actividade económica.
concentração muito elevada no ano de 2009.
Do outro, os que sustentam que as acções
No caso de Portugal, o pacote de estímulo orçamental aprovado em Dezembro de 2008 concentrou
ambiente recessivo, o mais provável é que
da política orçamental são geralmente
as suas medidas no investimento público, na ajuda às empresas à exportação bem como no apoio
a preocupação dos agentes se centre no
inefi cientes, podendo agravar as situações
ao emprego e protecção social. De acordo com as estimativas realizadas o seu efeito conjunto so-
bre o défi ce elevar-se-á a 0,8% do PIB em 2009, embora neste valor não esteja incluído o impacto de
por razões de “lags” temporais ou criar dis-
outras medidas tomadas na segunda metade de 2008 e no orçamento de Estado de 2009, as quais
torções prejudiciais. No primeiro caso, estão
o futuro. No momento da intervenção ci-
poderão cifrar-se em 0,4% do PIB, bem como o efeito de outras anunciadas mais recentemente.
os economistas de orientação keynesiana e
rúrgica é provável que o doente esteja mais
Efeito líquido no saldo orçamental (2008-2010) Distribuição no período 2008-2010
alguns neoclássicos moderados, no segundo
preocupado com o sucesso da operação do
em % do PIB de 2008 em % do efeito líquido
encontram-se muitos economistas da escola
clássica, sendo que estes têm dominado o
Alemanha
Em particular, considera-se que, mesmo no
Áustria Bélgica
pações dos agentes económicos quanto à
1. O debate Finlândia
sustentabilidade das fi nanças públicas têm
tendência para pressionar os mercados ao
sentido estabilizador de duas maneiras. Em
aumento mais ou menos rápido do prémio
primeiro lugar de maneira passiva, deixando
de risco sobre os instrumentos da dívida
Luxemburgo
pública. Também este factor tenderá, mais
Países Baixos Portugal
provavelmente, a exercer uma maior infl u-
aos sistemas de tributação e de despesa
Reino Unido
ência depois de iniciada a retoma do que
pública. Quando a actividade económica se
quando a economia se encontra ainda numa
reduz dois efeitos se fazem imediatamente
situação de cariz essencialmente recessivo.
Nota: Nas despesas inclui-se as medidas orçamentais discricionárias e as estimativas não incluem o impacto das medidas de apoio ao
sentir nas contas do Estado, deteriorando
sistema fi nanceiro. Fonte: OCDE (Economic Outlook — Interim Report, Março 2009).
Um argumento a favor relaciona-se a lógica
JANUS 2010 anuário de relações exteriores
Aspectos da conjuntura internacional Manuel Farto e Henrique Morais
keynesiana de opor a despesa do Estado à
SALDO ORÇAMENTAL (% do PIB)
a estas análises. É por isso que sem grandes
à concretização de objectivos específi cos e co-
espiral recessiva que tende a gerar-se quan-
debates os governos acabaram por escolher
ordenado a nível europeu; ii) utilizar instru-
do a quebra do investimento e/ou consumo
mentos de ambos os lados, receita e despesa;
e/ou exportações arrastam quebras da pro-
riscos que poderiam revelar-se politica e
e iii) ser conduzido no quadro de PEC.
dução, do emprego e falências de empresas
A arquitectura de um pacote de estímulo
que, por sua vez, tendem a provocar novas
orçamental, podendo em si ser muito dife-
quebras do investimento (pela incerteza e
bem ao desconsiderar a teoria económica
renciada, não pode prescindir da exigência
expectativas pessimistas criadas), ao mesmo
dominante. De resto, o próprio Fundo Mo-
que as medidas sejam atempadas, sobretudo
netário Internacional no “Outlook” de Abril
quando já se tinha perdido muito tempo e al-
guns países da união como a Alemanha mani-
contracção acrescida do consumo. Nestas
sustentando no capítulo 3 que “o estímulo
festavam ainda dúvidas signifi cativas quanto
Fonte: OCDE (Economic Outlook, Março de 2009).
circunstâncias em que as empresas deixam
orçamental parece ser particularmente útil
à bondade de tais medidas. Uma implemen-
de investir e os trabalhadores reduzem o
as consequências claras dos mais recentes
durante as recessões associadas a crises
tação rápida que evite desfasamentos tempo-
consumo e em que o Estado da Confi ança
desenvolvimentos da teoria económica nesta
rais decorrentes de processos de concepção,
matéria. Levar ate às ultimas consequências
A segunda questão à qual nunca podere-
aprovação e execução é indispensável para
ta, parece evidente que só do lado da gestão
as teses “solidamente” estabelecidas pela
mos responder diz respeito às consequên-
pública se poderá encontrar uma resposta
cias económicas, sociais e políticas se tives-
Quanto à duração do estímulo defende-se
nas últimas décadas signifi caria não accionar
geralmente, como quer a União Europeia,
Esta situação é particularmente evidente
a politica orçamental discricionária uma vez
Nós acreditamos que seriam enormes.
quando a política monetária se revela ela
que os resultados da sua implementação ou
sobretudo um carácter transitório, tendo
própria difi cilmente utilizável, como ocorre
seriam ”moderadamente positivos”, como
3. A UE e a politica orçamental
em atenção a sustentabilidade das fi nanças
quando a taxa de juro se encontra já a um
sustenta o artigo referido do FMI, ou pode-
no contexto recessivo
nível muito baixo. O exemplo do Japão, que
riam mesmo revelar-se perversos, como têm
A adopção de medidas de carácter discricio-
permaneceu longos anos com defl ação e
nário tem geralmente como objectivo o refor-
5. Conclusão
taxas de juro directoras de zero por cento e,
ço dos efeitos gerados pelos estabilizadores
O principal resultado teórico da recente
mais recentemente, os EUA, em que as taxas
automáticos, mas tal pode revelar-se funda-
de juro do Fed estão em 0,25% desde Dezem-
alemão, foram inicialmente reticentes mas
mental em situação de recessão agressiva,
discricionária retomou os seus direitos, re-
bro de 2008, são elucidativos da “armadilha”
embora se deva igualmente reconhecer que a
legando para segundo plano a “política eco-
em que pode cair a política monetária.
intervenção pública de cariz orçamental. A
sua adopção possa ser limitada pela existên-
nómica” desenvolvida através da implemen-
Um argumento adicional que milita a favor
este propósito duas questões nos parecem
cia de restrições associadas às perspectivas de
tação de regras. As decisões dos diversos
da política orçamental discricionária refere-
sustentabilidade das fi nanças públicas.
governos em utilizar a politica orçamental
se ao facto de algumas despesas pública ou
Para os países integrados na EU, o Pacto de
discricionária, por vezes de maneira muito
transferências, por exemplo, terem efeitos
Estabilidade e Crescimento impõe politicas
decidida em pacotes de elevados custos, à
orçamentais “prudentes” embora alguma
revelia dos resultados adquiridos pela teoria
A natureza ou talvez melhor a intensidade
fl exibilidade seja admitida em circunstancias
económica dominante nas últimas décadas,
e a duração da recessão, isto é, a força com
excepcionais, podendo o défi ce ultrapassar
revelaram-se plenamente justifi cadas, evitan-
que ela se faz sentir, é talvez um aspecto
consequente peso na dívida? Porque “não se
do, provavelmente, um desastre económico
caso de se estar a enfrentar uma recessão
mais determinante na escolha das politicas
Na verdade, os políticos manifestaram uma
considerada como grave. Neste sentido, in-
As políticas de estabilização da conjuntura
total desconfi ança em relação à corrente
terpretando a crise económica actual como
revelaram-se capazes de conter a avalancha
instrumentos utilizados. Admitimos, a este
dominante na teoria económica sobre esta
uma recessão grave, a Comissão Europeia,
propósito, que os estímulos orçamentais
matéria, assumindo explicitamente que “na
promoveu em Novembro de 2008 o “Plano
custos desta intervenção não possam e não
tenderão a ser tanto mais efi cientes quanto
prática a teoria é outra”, compreendendo
Europeu de Recuperação Económica”,
maior for o grau atingido pela recessão.
que os resultados geralmente obtidos pelos
em termos do agravamento do desequilíbrio
modelos teóricos usados pelos economistas
economia europeia que atingia 1,5% do PIB
das fi nanças públicas de muitos Estados. A
2. A politica orçamental no contexto
obrigam a hipóteses ultra simplifi cadoras
da União Europeia, embora 1,2% fosse obti-
recuperação económica que agora começa
da crise económica e fi nanceira
que os tornam muito distantes da economia
do através do fi nanciamento dos respectivos
a desenhar-se deve constituir o ponto de
Para além do debate teórico, intelectualmen-
e problemas reais. Neste sentido, as revisões
países pelos seus orçamentos nacionais.
partida para uma recalibragem dos desequi-
te estimulante, podemos hoje verifi car que
sucessivas das previsões levadas a cabo
Para a comissão, os estímulos à actividade
líbrios internos e externos dos diferentes
na recente crise nenhum governo quis “pa-
pelas mais prestigiadas agencias interna-
económica deviam desenvolver-se no quadro
países de modo a criarem condições para
gar para ver”, isto é, nenhum governo assu-
cionais mais não fi zeram do que aumentar
de um conjunto de orientações. O estímulo
enfrentar a nova crise que, ninguém sabe
miu em matéria de politica económica real
dramaticamente a desconfi ança em relação
deverá ser i) atempado, temporário, dirigido
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SHORT BIOGRAPHY ANDERS WEBERG // ARTIST // FILM MAKER (b.1968) Anders is an artist and filmmaker working in video, sound, new media and installations and he is primarily concerned with identity. The human body lies at the root of projects that formally and conceptually chart identity and its construction as a preamble to broaching matters of violence, genders, memory, loss or ideology in whic